RECONEXÃO – um papo sobre processo criativo e autoconhecimento com a Camomila Chá.

Por Equipe Festival Camomila

Na última quarta-feira, 16 de setembro, a banda Camomila Chá lançou seu segundo disco de trabalho, o “Reconexão”. Em meio a pandemia e a organização do Festival Camomila – que aconteceu excepcionalmente online – Juliana Furtado e Camila Pedrassoli pariram um trabalho forte e acolhedor, com muita verdade e potência. 

 

Hoje a nossa coluna recebe com muito carinho as duas idealizadoras do projeto para um papo sobre processo criativo e autoconhecimento! 

 

Redação Camomila – Como foi o momento que precedeu o início das gravações e o início do processo criativo para cada uma de vocês?

 

Juliana – Foi um momento de recolhimento, uma pausa anunciada devido a pandemia. A vida agitada parou, o mundo ficou suspenso e o ar ficou denso. Comecei a acessar algo aqui dentro, olhar profundamente para dentro do meu ser e me perceber, ver o que estava acontecendo por aqui – agora com o silêncio externo, distante da agitação da rua e do dia a dia me fez mergulhar nesta experiência.

 

Redação Camomila – a gente sabe que uma obra de arte, quando exposta pras pessoas, ela é apenas a ponta do iceberg. o artista realmente passa por uma trajetória de transformação junto com a criação. como vocês vivenciaram isso?

 

Juliana – Este ano de 2020 já começou pra mim em silêncio. Na virada do ano senti algo diferente, algo anunciava que algumas coisas precisavam mudar. Vivi, junto disso, um processo de luto pela perda da minha amada avó logo nos primeiros dias do ano, uma mulher incrível, uma trabalhadora incansável da luz, inspiração para tudo na minha vida. Observar ela lidar com a impermanência de uma forma linda e com uma fé inabalável me fez pensar demais no real significado das nossas ações e no quanto elas podem impactar a vida do próximo. A vida dela impactou a minha. Comecei a escrever as músicas novas, conectada pelo amor divino. Intensifiquei bastante as práticas espirituais e percebi que a pausa era um grande presente, um grande ensinamento sobre a impermanência da vida.

 

Camila – No início da pandemia participamos do Festival Dosol Sessions e gravamos em casa uma versão para Reconexão, e ela representa exatamente as fases que todos passamos e estamos passando nesse período de isolamento social. Assim que chegamos nas outras músicas, começamos a gravar em casa começando pelo synth e violões e chamamos Vitória de Santi pra gravar teclados e alguns baixos e iniciamos as gravações de forma remota.

 

Conforme íamos finalizando cada música, passávamos pra Eduardo Pinheiro mixar. Nós ouvíamos suas modificações e fazíamos as observações, até chegar na mix final. Isso tudo ocorreu de maneira muito fluida, até porque já temos uma parceria de muitos trabalhos e eu me sinto muito mais preparada pra produzir um disco com objetividade hoje. 

 

Redação Camomila – Como foi o momento de composição dos novos mantras nesse período de isolamento social?

 

Juliana – Comecei a cavar um túnel de luz de aprendizado e de amor dentro de mim e assim as composições foram surgindo. O isolamento me trouxe tempo, o tempo me trouxe reavaliação e Reconexão. É desta reconexão com a nossa essência e com o amor universal que fala o álbum. Ancorar esta luz e poder beneficiar os seres faz parte deste momento intenso de reconexão.

 

Camila – O processo de fazer o disco em casa nesse período de isolamento social trouxe um olhar mais profundo e cuidadoso com todos os detalhes e conforme a coisa ia acontecendo a mensagem ficava cada vez mais preciosa então pudemos de fato nos conectar com cada música e sentir o que elas precisavam de instrumentação. Quando a Ju me falou que queria que as pessoas entendessem com clareza a mensagem percebi até a necessidade de melhorar minha voz pra passar isso pra frente. Comecei a preparar minha voz com Hilkelia e pra mim fez toda a diferença na hora da execução – tanto na gravação do disco como no ao vivo. Me senti mais segura e à vontade pra usar minha voz pra acessar lugares de conexão que não  acessava antes. Em tempos normais, fora isolamento, talvez eu não tivesse esse olhar e nem esse tempo pra de fato me preparar.

 

FAIXA A FAIXA, por Camila Pedrassoli:

 

“Ra Ma Da Sa” é um mantra de cura universal e por vários dias eu acompanhei a Snatam Kaur meditando as 12h30 o mantra Ra Ma Da Sa por 30 minutos conectando com essa energia de cura e de cara eu percebi que gostaria de começar o disco com este mantra, para que possamos divulgar essa mensagem e mais pessoas possam se beneficiar desta vibração.

 

“Reconexão” – representa exatamente as fases que todos passamos e estamos passando no isolamento social: questionando, reconstruindo e se reconectando com o que de fato importa na vida. 

 

“Tudo é Luz” – em meados de fevereiro/março Ju escreveu “Tudo é Luz” e “Tudo Tem uma Razão de Ser” é muito inspirada na obra da avó dela, Maria Helena Lessa, uma incansável trabalhadora da luz. Ela escreveu, mandou pra Marie Gabriella ler a letra e ela topou. Quando chegou mais perto da gravação conversamos sobre a intenção da música e Marie nos presenteou com essa interpretação belíssima. 

 

“Ganesha” é uma faixa que já estava pronta na minha cabeça e eu sempre tocava ela em casa entoando. Acho a melodia bem boa pra conectar na recitação do mantra e quis focar no coro pra de fato “quebrar todos os obstáculos” com a energia de Ganesha.

 

“Eu Vou Girando” é uma música super especial. Ela fecha o disco nessa música-ritual e tivemos participações muito incríveis na produção e na finalização. Ela nasceu de um beat que fiz pro #30dias30beats e a letra veio da vontade de ter uma música ritual, meio que pra fechar.

 

Me veio a ideia de convidar Bia Wolf e Ju Strassacapa para participarem da música. Fazia um tempo que estávamos tentando fazer algo juntes e essa música me pareceu a oportunidade perfeita – e foi! Deixamos o beat de lado e Bia e Ju trouxeram o djembê, o tambor Lakota, os efeitos e uma das principais coisas: a fogueira. Além de, claro, a voz impactante de Ju e o uivo de Bia.

 

Eu, particularmente, amo a Florencia Saravia. Sou fãzona dela e trabalhamos muito bem juntas nos palcos. Em estúdio ela mixa e masteriza com uma sensibilidade incrível e, como essa música era um ritual ali muito feminino, decidimos por chamar a Flô pra mixar e ela chegou com esse olhar todo especial que vocês podem conferir ouvindo.

 

O processo de finalização das músicas foi bem corrido, pois estávamos no meio da produção do Festival Camomila – gravando os clipes e shows ao vivo dirigidos por Larinha Dantas. Foi um novo jeito de se lançar um disco, mas conseguimos chegar num projeto muito interessante respeitando ao máximo as regras de distanciamento.

 

O resultado desse trabalho transformador está no canal do Festival Camomila no Youtube pra quem quiser conferir!

 

Permita-se!